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Restauração Ecológica: Princípios, Valores e Estrutura de uma Profissão Emergente
Restauração Ecológica: Princípios, Valores e Estrutura de uma Profissão Emergente
Restauração Ecológica: Princípios, Valores e Estrutura de uma Profissão Emergente
Ebook581 pages6 hours

Restauração Ecológica: Princípios, Valores e Estrutura de uma Profissão Emergente

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About this ebook

Publicado originalmente em 2007, Restauração Ecológica se tornou um livro seminal em seu campo. Esta edição completamente revisada e reorganizada apresenta desenvolvimentos e tendências atuais no campo por dois dos líderes mundiais em restauração ecológica. Disponível em por tuguês pela primeira vez, este novo ebook é um
recurso inestimável para praticantes e teóricos de diferentes origens, desde voluntários até cientistas acadêmicos e consultores prof issionais.
LanguageEnglish
PublisherIsland Press
Release dateJul 25, 2017
ISBN9781610919104
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    Book preview

    Restauração Ecológica - Andre F. Clewell

    www.ser.org.

    Restauração

    Ecológica

    Princípios, Valores e Estrutura

    de uma Profissão Emergente

    SEGUNDA EDIÇÃO

    Andre F. Clewell e James Aronson

    Imagens

    Direitos autorais © 2013 Andre F. Clewell e James Aronson

    Todos os direitos reservados nas Convenções Internacional e Pan-Americana sobre Direitos Autorais. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida de qualquer forma ou por qualquer meio sem a permissão por escrito do editor: Island Press, 1718 Connecticut Avenue NW, Suite 300, Washington, DC 20009.

    Island Press é uma marca registrada do The Center for Resource Economics.

    Dados de Catalogação na Publicação da Biblioteca do Congresso

    Clewell, Andre F.

    Restauração ecológica: princípios, valores e estrutura de uma profissão emergente / Andre F. Clewell e James Aronson. - 2a ed.

    p. cm.

    Inclui referências bibliográficas e índice.

    ISBN 978-1-59726-323-8 (eBook) --ISBN 978-1-61091-167-2 (pano: papel alfa) - ISBN 1-61091-167-9 (pano: papel alca) - - ISBN 978-1-61091-168-9 (pbk.: Papel alk.) - ISBN 1-61091-168-7 (pbk .: papel alk.) 1. Ecologia da restauração. I. Aronson, James, 1953- II. Sociedade para Restauração Ecológica Internacional. III. Título.

    QH541.15.R45C54 2012

    577 - DC23

    2012026960

    Imagens Impresso em papel reciclado sem ácido

    Fabricado nos Estados Unidos da América

    10 9 8 7 6 5 4 3 2 1

    Palavras-chave: Island Press, espécies coadaptadas, restauração ecológica, ecologia da restauração, profissional da restauração, , recuperação ecológica, regime de perturbação, modelo de referência, certificação profissional, visita de campo virtual, restauração holística, ecossistema cultural, , processo ecológico, processos ecológicos, trajetória ecológica, integridade ecológica, serviços ecossistêmicos, continuidade histórica, área de referência, restauração no Brasil, Restauração no Chile, Restauração na Flórida, Restauração na França, Restauração na Índia, Restauração em Oregon, profissão de restaurador, Restauração na África do Sul, valores da restauração, restauração do capital natural, auto sustentabilidade

    SUMÁRIO

    SOBRE A SOCIEDADE PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

    LISTA DE VISITAS DE CAMPO VIRTUAIS

    PRÓLOGO

    Paddy Woodworth

    PREFÁCIO

    PARTE I. Por que Restauramos

    Capítulo 1. Panorama Geral

    Alguns Termos e Conceitos Básicos

    Capítulo 2. Valores e Restauração Ecológica

    Valores Ecológicos

    Valores Pessoais

    Valores Socioeconômicos

    Valores Culturais

    Hólons e Domínios de Organização

    Capítulo 3. Distúrbio e Degradação

    Distúrbio

    Resposta do Ecossistema a Distúrbios

    Degradação, Danificação, Destruição

    Consequências Ecológicas da Degradação

    PARTE II. O que Restauramos

    Capítulo 4. Recuperação

    Visões Ecológicas da Recuperação

    Teoria Ecológica e Restauração

    Capítulo 5. Atributos Ecológicos dos Ecossistemas Restaurados

    Composição de Espécies

    Estrutura da Comunidade

    Ambiente Abiótico

    Contexto da Paisagem

    Funcionalidade Ecológica

    Continuidade Histórica

    Complexidade Ecológica

    Auto-Organização

    Resiliência

    Autossustentabilidade

    Suporte à Biosfera

    Objetivos e Padrões do Projeto

    Capítulo 6. Paisagens e Ecossistemas Semiculturais

    Culturalização de Paisagens

    Exemplos de Paisagens Semiculturais

    Seleção de Objetivos Semiculturais para Restauração

    PARTE III. Como Restauramos

    Capítulo 7. Referências Ecológicas

    Conceito de Referência

    Tipos de Ecossistema de Referência

    Etapas na Preparação do Modelo de Referência

    Referências Temporais

    Referências na Restauração de Paisagem

    Trajetórias

    Capítulo 8. Abordagens de Restauração

    Grau de Intervenção

    Abordagem de Grupos Funcionais

    Fontes de Conhecimento

    Capítulo 9. Planejamento e Avaliação de Projetos

    Diretrizes para Restauração

    Estratégias e Delineamentos

    Inoculação de Solos e Substratos

    Avaliação de Projetos

    PARTE IV. Restauração Ecológica como uma Profissão

    Capítulo 10. Relação da Restauração com outros Campos de Conhecimento

    Ecologia da Restauração e Restauração Ecológica

    Gestão de Ecossistemas

    Reabilitação, Revegetação e Remediação

    Mitigação Compensatória

    Ecossistemas Criados Artificialmente

    Arquitetura e Design Paisagístico

    Engenharia Ecológica

    Restauração do Capital Natural

    Ciência da Sustentabilidade

    Capítulo 11. Projetos e o Profissional

    Partes Envolvidas

    Patrocinadores do Projeto

    Funções do Projeto

    Estrutura Organizacional

    Evolução de Contextos

    Modelos de Manejo

    Certificação Profissional

    Capítulo 12. Avançando com a Restauração - Juntos

    Percepções sobre Restauração Ecológica

    Ecossistemas Novos

    Alterações Climáticas

    Próximos Passos

    GLOSSÁRIO

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    SOBRE OS AUTORES E COLABORADORES

    ÍNDICE

    Para

    John Cairns Jr.

    Em reconhecimento à sua carreira excepcional como um defensor dedicado e persistente da restauração ecológica e outros meios de melhoria ambiental e por sua vocação para compreender rapidamente as consequências prejudiciais do comprometimento dos ecossistemas para o bem-estar humano e para explicá-las convincentemente aos seus contemporâneos. Sua percepção precoce sobre a importância de restaurar o capital natural foi um avanço substancial para nossa disciplina. Muito do que dizemos neste livro foi dito sucintamente por John há vinte e cinco anos ou mais. No entanto, o mundo ainda não levou a sério sua sabedoria e nos sentimos obrigados a repeti-la.

    VISITAS DE CAMPO VIRTUAIS

    Visita de Campo Virtual 1. Restauração de Savana de Pinheiros na Flórida, EUA

    David Printiss

    Visita de Campo Virtual 2. Restauração do Estepe Mediterrâneo na França

    Thierry Dutoit, Renaud Jaunatre e Elise Buisson

    Visita de Campo Virtual 3. Restauração dos Campos e Pântanos de Shola, Índia.

    Bob Stewart e Tanya Balcar

    Visita de Campo Virtual 4. Restauração de Vegetação Arbustivo-arbórea Subtropical na África do Sul

    Marius van der Vyver, Richard M. Cowling, Anthony J. Mills, Ayanda M. Sigwela, Shirley Cowling e Christo Marais

    Visita de Campo Virtual 5. Restauração Florestal no Entorno de um Reservatório no Brasil

    Pedro H. S. Brancalion

    Visita de Campo Virtual 6. Restauração Ripária em Oregon, EUA

    Dean Apostol e Jordan Secter

    Visita de Campo Virtual 7. Restauração da Floresta Pluvial Temperada no Chile

    Christian Little, Antonio Lara e Mauro González

    PRÓLOGO

    Entre o dedo e o dedão

    Pousa a caneta parruda.

    Vou cavar com ela.

    --Seamus Heaney *

    A primeira edição deste livro foi um marco na luta pela aplicação de princípios ecológicos claros sobre a prática da restauração, em benefício dos restauradores atuando no campo. Por outro lado, e igualmente necessário, o livro também incluiu uma série de informações dinâmicas do campo para o escritório e para o laboratório; realçando aos cientistas que os princípios devem ser constantemente ajustados para representar novos, e muitas vezes específicos, contatos com a realidade.

    Esta segunda edição refina esse processo significativamente, mas permanece - como todos os bons livros no dinâmico território da restauração devem permanecer - um trabalho em andamento.

    Essa característica dá-lhe uma emoção muito particular. Pode-se ouvir o som de uma ciência nova, globalmente significativa e de uma nova profissão emergindo destas páginas. Andy Clewell e James Aronson cavam as camadas ricas de significados e nas múltiplas implicações práticas, que subjazem as percepções superficiais do termo sedutoramente esperançoso: restauração ecológica.

    No poema do início da sua obra, Cavar, Seamus Heaney invejava seus antepassados ​​por suas práticas e habilidades com uma pá em um pântano de relva, e, ainda assim, ele afirma que o escritor também causa um impacto real e pode revelar as raízes sob a camada superficial de nosso mundo.

    Uma tensão semelhante entre as pressuposições práticas e teóricas dá energia a este livro. Clewell e Aronson são excepcionalmente bem equipados para expressá-las, pois as incorporam em suas vidas diárias. Ambos são cientistas com botas molhadas e com a textura autêntica da terra em suas páginas.

    Há muito mais tempo do que ele provavelmente se lembra, Clewell deixou uma carreira universitária bem sucedida em botânica e ecologia. Ele se transformou em um empreendedor ainda mais bem-sucedido - e pioneiro - na restauração ecológica, enquanto continuava a publicar, enraizando sua teorização inquieta em projetos nos quais trabalhou pessoalmente.

    Aronson permanece enraizado na academia, e, como um apaixonado defensor da restauração do capital natural, passa tanto tempo debatendo questões ecológicas (e sociais) com os restauradores no campo quanto nos limites mais abstratos da ciência da restauração.

    Entretanto, por que eu digo que esta segunda edição amplamente revisada de seu já autoritário livro amarelo deve continuar a ser um trabalho em andamento? Já não deveria ser algo próximo do definitivo neste ponto?

    Bem, Não e Não, por duas razões: primeiramente, a restauração continua a ser um adolescente entre os veteranos grisalhos das ciências e estratégias ambientais. É fato que sua estatura e potencial são cada vez mais amplamente reconhecidos. Uma seção especial da Science sobre este tema, publicada em 2009, no intervalo entre a edição deste livro que você está segurando agora e a primeira, começou com este elogio notável: O futuro do nosso planeta pode depender do amadurecimento da jovem disciplina da restauração ecológica.

    Seu surgimento relativamente recente significa que seus princípios fundamentais ainda estão em processo de formação. E mesmo quando uma expressão definitiva parece ter sido encontrada - o exemplo principal é o Principios da SER International sobre Resturação Ecológica de 2004, do qual Clewell e Aronson foram, juntamente com o falecido Keith Winterhalder, os principais autores. As revisões dos princípios foram requisitadas antes mesmo da tinta ter secado. De fato, Aronson e os demais estavam trabalhando em uma nova versão dos princípios enquanto ele terminava este livro.

    Em segundo lugar, parte dessa mutação constante deve-se a profundas diferenças filosóficas, nem sempre reconhecidas como tal, entre diferentes escolas de pensamento e indivíduos reivindicando o termo restauração.

    Os autores identificam três dessas escolas: um modelo do legado que enfatiza a restauração para chegar a uma condição passada pré-definida, muitas vezes concebida como intocada e estática; um modelo de utilidade que enfatiza a restauração de serviços ecossistêmicos que fornecem benefícios imediatos e óbvios para os seres humanos, como água potável e solo fértil; e um modelo de recuperação, o qual os autores priorizam.

    Conforme definido pelos autores, este modelo de recuperação tem muitos benefícios. Um ecossistema restaurado de acordo com este modelo desenvolverá complexidade, auto-organização e resiliência, mas suas expressões futuras de biodiversidade não necessariamente imitarão condições anteriores.

    O modelo de recuperação compartilha a ideia do modelo do legado de que as condições anteriores de um ecossistema degradado oferecem pistas inestimáveis ​​para sua potencial trajetória no futuro. Porém, evita qualquer tentação romântica de tentar retornar a um passado idealizado.

    O modelo de recuperação também compartilha a ideia do modelo de utilidade de que as sociedades humanas só pagarão pela restauração dos ecossistemas que lhes fornecem serviços; entretanto, estende o conceito de serviços para além do imediato e óbvio, incluindo a biodiversidade (tanto como um valor em si, como um fornecedor de muitos serviços que desconhecemos atualmente) e os valores estéticos e espirituais de que desfrutamos fornecidos pelos ecossistemas restaurados.

    Os autores fizeram bem em identificar claramente esses modelos e tentar dissipar a confusão que surge de uma tendência bem-intencionada de encobrir tais divisões dentro do movimento de restauração: Existe uma tendência de diferentes grupos e pessoas envolvidas na restauração ecológica de defender um modelo e ignorar a existência dos outros dois, como se a área da restauração ecológica fosse unificada. Não existe nenhum consenso. Na realidade, a restauração ecológica como uma disciplina em desenvolvimento está cheia de dores de crescimento. Todos nós precisamos reconhecer que existem outros modelos de restauração ecológica além daquele a que aderimos. Precisamos buscar o entendimento comum e valores compartilhados.

    É importante ressaltar, no entanto, que a área da restauração está em constante fluxo, não apenas porque é jovem e razoavelmente fragmentada filosoficamente, mas também por causa da escala, e da particularidade, do desafio que cada projeto de restauração envolve.

    Cada um dos três modelos de restauração exige nosso engajamento com uma equação onde muitas, e geralmente a maioria, das variáveis ​​são desconhecidas. Não estamos trabalhando em um laboratório fechado quando iniciamos um projeto de restauração. Restabelecer até mesmo o ecossistema mais simples exigiria, – idealmente, conhecimento testado experimentalmente sobre uma rede de relações em um sistema completamente aberto e, para todos os efeitos práticos, infinito.

    E o que realmente sabemos sobre esses sistemas? Bem, qualquer ecologista do solo dirá que nem sequer identificamos muitas das espécies de microflora e microfauna que formam, literal e metaforicamente, a base de qualquer ecossistema; muito menos compreendemos suas interações e funções.

    É comum pensar que este não é o caso para plantas e animais. No entanto, como os autores deixam claro sem rodeios, a suposição de que os ecologistas sabem as funções que uma dada espécie de planta ou animal desempenha em um ecossistema não pode ser prontamente confirmada com segurança no campo.

    Por todas essas razões, não é de se admirar que é extraordinariamente difícil estabelecer princípios gerais que possam guiar a restauração em todos os lugares. Mesmo em uma escala mais local, cada projeto terá características únicas, tendo que ser abordado como um caso consideravelmente específico para haver alguma chance de sucesso.

    Em escala global, a restauração em diferentes biomas exige estratégias radicalmente diferentes. Como os autores apontam, as origens do movimento de restauração no Centro-Oeste americano e, de maneira mais geral, nas regiões boreais temperadas, inevitavelmente condicionaram os princípios desenvolvidos por seus primeiros pensadores.

    Mesmo em sua terra natal, esses princípios, baseados em conceitos excessivamente simplistas derivados da sucessão natural Clementsiana, estão sendo questionadas há décadas. Como Steve Hopper e outros autores demonstraram, sua aplicação em outras partes do mundo, onde o clima e as condições do solo são muitas vezes completamente diferentes e, às vezes, únicas, é provavelmente ainda mais errônea.

    Tudo isso se resume a uma caracterização da restauração ecológica como uma aventura desesperadamente quixotesca? Um escandaloso desperdício dos escassos recursos da conservação em busca de uma ilusão?

    Pelo contrário, este livro demonstra, de forma convincente e acessível, uma grande quantidade de evidências em contrário. Embora poucos projetos de restauração tenham cumprido todos os seus objetivos, já se conhece bastante sobre o assunto para demonstrar decisivamente que, como uma estratégia para combater a degradação ambiental, a restauração está tornando-se uma ferramenta valiosa e preferida para muitas comunidades e organizações.

    Aqueles que tentam entender a oportunidade vital que a restauração oferece devem muito a pioneiros como Clewell e Aronson. Suas escavações com pá e caneta abriram caminhos inteligíveis e estimulantes para esta renovação do nosso compromisso com o mundo natural.

    Paddy Woodworth

    * Cavar, de Morte de um Naturalista

    PREFÁCIO

    Neste livro, oferecemos uma descrição abrangente da prática da restauração ecológica, a disciplina que recupera ecossistemas comprometidos em sua totalidade. Escrevemos para todos aqueles que iniciam, financiam, administram, gerenciam, planejam e, mais particularmente, implementam projetos de restauração ecológica. Além daqueles que desempenham funções de apoio, como produtores demudas, ecologistas que monitoram e avaliam projetos, cientistas sociais ligados ao setor público e agências que desempenham funções reguladoras. Acima de tudo, escrevemos este livro para estudantes e jovens profissionais de todo o mundo que estão considerando carreiras em restauração ecológica, para que entendam os desafios e apreciem a profunda satisfação que essa disciplina pode proporcionar.

    Este não é um livro sobre ecologia propriamente dito, embora tenhamos descrito minuciosamente os fundamentos científicos da prática de restauração de uma forma que esperamos que tenha sido substancial e acessível. Além disso, examinamos detalhadamente os múltiplos valores que a restauração ecológica contempla. Discutimos como projetos de restauração ecológica são estruturados e administrados. Também exploramos áreas relacionadas ao manejo e conservação de recursos naturais com as quais a restauração ecológica é, às vezes, confundida.

    Não escrevemos este livro para atrair um grande público de leitores, mas esperamos que aqueles interessados em nossa área encontrem um material muito estimulante e provocativo. Esperamos atrair leitores que sejam tomadores de decisões públicas e líderes empresariais, cujas atividades profissionais e decisões referentes às questões ambientais beneficiem-se de uma compreensão aprofundada da nossa área. Esperamos também atrair filósofos ambientais e escritores que almejam satisfazer o crescente interesse público sobre restauração ecológica. Queremos alcançar este público diversificado, pois a compreensão da restauração é crucialmente importante para que nossa área alcance todo o seu potencial. Na verdade, a restauração ecológica está emergindo como um ponto de encontro para muitas áreas e grupos de interesse em todas as classes sociais e culturas ao redor do mundo. Uma compreensão comum dos seus preceitos e da sua prática é essencial para diálogo e colaboração eficazes.

    Aqueles familiarizados com a primeira edição deste livro (Clewell e Aronson 2007) acharão que esta, a segunda edição, foi revista e reorganizada de cima para baixo. A motivação para a revisão foi melhorar o que os revisores já haviam proclamado ser um livro bem-sucedido, atualizando-o em relação aos novos avanços desta disciplina e adicionando novos tópicos para discussão. Solicitamos comentários referentes à primeira edição e incorporamos as sugestões da melhor maneira possível. A inserção de estudos de caso de projetos de restauração coordenados por restauradores, que chamamos de Visitas de Campo Virtuais (VCVs), foi muito apreciado na primeira edição. Nós as substituímos nesta edição por Visitas de Campo Virtuais totalmente novas. Esta edição não tem o apêndice presente na primeira edição, o qual era uma cópia literal de um documento-base da Sociedade para a Restauração Ecológica (SER), intitulado Diretrizes para Desenvolver e Gerenciar Projetos de Restauração Ecológica. Esse documento está disponível no site da SER (www.ser.org) e foi importante incluí-lo na primeira edição, pois não havia sido publicado anteriormente de forma impressa.

    A primeira edição foi escrita em grande parte como uma elaboração de outro documento-base, o Princípios da SER Internacional sobre Restauração Ecológica (SER 2004). Continuamos a nos referir aos Princípios da SER, porém esta edição é um volume mais independente do que a primeira. Versões do Princípios da SER foram publicadas em 2002 e 2004. O texto é idêntico em ambas as versões, a única diferença está na sua formatação. Em nossa primeira edição (Clewell e Aronson 2007), citamos SER (2002). Nesta edição, citamos SER (2004), versão atualmente disponível no site da SER. Os leitores devem estar cientes de que tanto as Diretrizes SER como os Princípios da SER provavelmente serão submetidos a revisão em breve para possíveis atualizações e revisões.

    Preparamos um glossário um tanto quanto revisado para esta edição, cobrindo uma variedade surpreendente de termos relacionados à restauração ecológica. As definições foram adaptadas à forma como utilizamos esses termos neste livro. Para a maior parte dos termos, mantivemos as mesmas definições da primeira edição; contudo, adicionamos alguns termos e atualizamos outros, baseando-nos principalmente em definições aceitas pela Economia de Ecossistemas e Biodiversidade (TEEB 2010) e van Andel e Aronson (2012).

    Estrutura de Seções e Capítulos

    Este não é um livro de receitas que ensina ao leitor táticas e métodos específicos para executar a restauração ecológica em um determinado local ou em uma determinada ecorregião. Em vez disso, ele tenta cobrir todos os outros tópicos relevantes para a prática da restauração. O livro consiste de doze capítulos, dispostos em quatro partes.

    A Parte I, intitulada Por que Restauramos, começa com uma visão geral de toda a área da restauração ecológica, seu significado para a civilização e apresentações de princípios importantes recorrentes ao longo do livro. Em seguida, consideramos os valores pessoais, culturais, socioeconômicos e ecológicos cumpridos pelos ecossistemas após se recuperarem . Oferecemos um modelo conceitual que organiza esses valores de forma coerente. A seção termina abordando a questão globalmente relevante da degradação dos ecossistemas.

    A Parte II, intitulada O que Restauramos, examina o complexo tema da recuperação ecológica, cujo significado é crucial para a definição da restauração ecológica e como a recuperação é realizada. Descrevemos atributos ecológicos que, quando alcançados, dão integridade aos ecossistemas restaurados. O controverso tema da restauração de ecossistemas semiculturais também é minuciosamente discutido.

    A Parte III, intitulada Como Restauramos, aborda o tópico essencial dos sistemas e modelos de referência, que informam quase todos os aspectos do planejamento da restauração. Abordagens estratégicas para a restauração ecológica são analisadas, incluindo fatores que determinam a intensidade do esforço necessário para concluir um projeto de restauração. As etapas necessárias comuns a todos os projetos de restauração ecológica foram enumeradas, começando com a concepção inicial de um projeto e terminando com a publicação de seu estudo de caso. O envolvimento das partes interessadas é um tema recorrente.

    A Parte IV, intitulada Restauração Ecológica como uma Profissão, analisa a relação da restauração com outras disciplinas, incluindo engenharia ecológica, design paisagístico e restauração do capital natural (RCN). A seção também discorre sobre a formação profissional e a certificação; sobre as formas como os restauradores e outros profissionais veem a disciplina da restauração ecológica; e tópicos urgentes para os quais a restauração ecológica tem relevância, como as mudanças climáticas. Concluímos o livro com recomendações que consideramos que podem enriquecer essa profissão emergente.

    Como Usar Este Livro

    Diferentes leitores buscarão diferentes tipos de informações neste livro. Muitos gostarão de lê-lo em sequência. Outros podem querer ler as Visitas de Campo Virtuais primeiro para adquirir uma base antes de abordar o texto. Os últimos capítulos são mais específicos, podendo fazer mais sentido para aqueles que já são restauradores experientes. A maioria dos capítulos são mais ou menos independentes e podem ser lidos em qualquer ordem, particularmente por aqueles com experiência na área.

    Escrevemos este livro para refinar definições, esclarecer conceitos e tendências, encorajar alianças interdisciplinares e estimular nossos leitores a desenvolver novas visões. Reconhecemos que este livro é apenas uma contribuição temporária para uma disciplina em rápido desenvolvimento. Esperamos que ele contribua para um diálogo global que impulsione a restauração ecológica, em sinergia com os campos relacionados da engenharia ecológica, economia ecológica e ciência da sustentabilidade. Estamos prontos para participar deste diálogo e para isso pedimos seu feedback por e-mail, encaminhado a clewell@verizon.net e james.aronson@cefe.cnrs.fr.

    Agradecimentos: Tein McDonald e Karen Holl leram partes de versões mais avançadas desta edição e fizeram uma série de sugestões incisivas para esclarecer e expandir nossas mensagens. Paddy Woodworth - jornalista extraordinário - analisou o livro e nos desafiou a repensar algumas de suas passagens. Ele pediu para que reconhecêssemos um conflito de interesses que o incomodou quando escreveu o prólogo deste livro, uma vez que ele ajudou na sua edição. Agradecemos a Bérengère Merlot e Christelle Fontaine pelo enorme apoio como assistentes de pesquisa e edição, e por todos os nossos numerosos colegas em todo o mundo pelo contínuo debate e diálogo. É habitual que os autores agradeçam a editoras, que tiveram a tarefa de lapidar seus livros ates destes entrarem em produção. Em vez disso, expressamos nossa gratidão a Barbara Dean, da Island Press, e a sua sócia Erin Johnson, que assumiram papéis muito maiores: insistindo, por meio de revisões e críticas, que alcançássemos nossos maiores potenciais, tanto intelectualmente quanto como escritores.

    PARTE I

    Por que Restauramos

    A Parte 1 aborda o essencial para a restauração ecológica. O capítulo 1 apresenta uma visão geral do escopo deste livro. Apresentamos os princípios nos quais a restauração ecológica se baseia e os termos e conceitos essenciais para nossa argumentação. No capítulo 2, analisamos os valores pessoais, culturais, socioeconômicos e ecológicos que a restauração ecológica aborda. Sem uma avaliação dos motivos para se realizar a restauração ecológica, pode-se perder o porquê de estarmos fazendo e por quê é importante. Dessa forma, a restauração ecológica torna-se apenas uma outra maneira de ganhar a vida ou um passatempo para o fim de semana. No capítulo 3 voltamos nossa atenção aos ecossistemas – (o objeto da restauração ecológica) e começamos a distinguir entre os graus de estresse e distúrbio a que os ecossistemas podem ser expostos. Descrevemos as consequências ecológicas da perturbação de um ecossistema até ele se tornar degradado(um dos termos-chave) e, então, necessitar a restauração ecológica realizada por profissionais a fim de garantir sua recuperação.

    Capítulo 1

    Visão geral

    A restauração ecológica é o processo de auxílio no restabelecimento de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído (SER 2004). Na perspectiva ecológica, é uma atividade intencional que reinicia processos ecológicos que foram interrompidos quando um ecossistema foi degradado. Na perspectiva da conservação, recupera a biodiversidade diante de uma onda de extinção sem precedentes, mediada por humanos. Na perspectiva socioeconômica, a restauração ecológica recupera serviços ecossistêmicos dos quais as pessoas se beneficiam. Na perspectiva cultural, a restauração ecológica é uma forma de fortalecer nossas comunidades, instituições e relações interpessoais através da participação em uma busca comum. Na perspectiva pessoal, a restauração ecológica nos permite reconectarmo-nos com o resto da Natureza e restaurarmo-nos a nós mesmos enquanto restauramos os ecossistemas degradados. Todas essas perspectivas sobre a restauração ecológica têm em suas essências uma única verdade: a Natureza nos sustenta; portanto, servimos nossos próprios interesses quando retribuímos isso e sustentamos a Natureza.

    Embora globalmente cumulativa, a restauração ecológica é necessariamente um esforço local. A decisão de se restaurar representa um compromisso em longo prazo para com terras e recursos. Idealmente, essa decisão é tomada em consenso por todos os afetados. Um ecossistema restaurado contribui para a segurança ecológica e socioeconômica dos povos e para o seu bem-estar futuro. Os benefícios da restauração ecológica são intergeracionais. As pessoas desenvolvem apreço pelos ecossistemas locais quando participam das decisões referentes à restauração, e o respeito pelos ecossistemas aumenta se houver engajamento ativo nas atividades de restauração.

    A restauração ecológica reinicia processos ecológicos, mas não é possível intervir e criar os resultados desejados diretamente. Em vez disso, manipulamos propriedades biofísicas de um ecossistema degradado para facilitar o restabelecimento de processos que só podem ser realizados por organismos vivos. O restaurador auxilia a recuperação do ecossistema como um médico auxilia a recuperação de um paciente. Os pacientes curam-se sob a supervisão do médico, sob cuidados e sob encorajamento. Da mesma forma, os ecossistemas respondem à assistência prestada pelos restauradores.

    Uma vez concluídas as atividades do projeto de restauração ecológica, o ecossistema efetivamente restaurado auto-organiza-se e se torna cada vez mais autossustentável em um sentido dinâmico. Torna-se novamente resiliente a perturbação e pode manter-se de forma semelhante a um ecossistema não perturbado do mesmo tipo em uma localização próxima na paisagem local. Em outras palavras, a intenção é recuperar um ecossistema degradado de volta a sua condição de integralidade. Um ecossistema íntegro é caracterizado por possuir um conjunto de atributos ecológicos que serão discutidos no capítulo 5. Utilizamos o termo restauração ecológica holística para distinguir esses esforços abrangentes de ações parciais de restauração que se limitam a recuperação parcial do ecossistema ou a melhoramento ecológico.

    Apesar de nosso ideal de recuperar um ecossistema degradado de volta a uma condição de total autossustentabilidade,, a época da história da Terra em que os ecossistemas intactos eram inteiramente autossustentáveis chegou ao fim por duas razões. Em primeiro lugar, os impactos ambientais antropogênicos tornaram-se tão difundidos globalmente e, muitas vezes, localmente severos, que muitos ecossistemas restaurados necessitam de manejo ecossistêmico contínuo para evitar que retornem a um estado degradado novamente. Em segundo lugar, muitos ecossistemas aparentemente naturais coevoluíram com as populações humanas, cujas práticas culturais tradicionais os transformaram em ecossistemas semiculturais. Tais sistemas degradam-se pela falta de manutenção após o abandono e se tornam candidatos à restauração ecológica. Se forem restaurados ao seu estado semicultural, as práticas culturais que os mantiveram anteriormente devem ser retomadas para garantir sua sustentabilidade.

    Os ecossistemas não são estáticos. Eles evoluem em resposta a modificações naturais e antropogênicas no ambiente externo e a processos internos que governam a abundância e a composição de espécies. Utilizamos evoluir e evolução em relação aos ecossistemas aqui e em outras partes deste livro não no sentido Darwiniano, mas no sentido de desenvolvimento referindo-se a uma mudança ecológica unidirecional ou cíclica através do tempo. A evolução do ecossistema, assim como a evolução das espécies, às vezes, é gradual e sutil e, em outras vezes, é rápida ou abrupta. Um registro das mudanças sequenciais na expressão que um ecossistema sofre através do tempo é chamado de trajetória ecológica histórica. Se um ecossistema é degradado, sua trajetória histórica é interrompida. A restauração ecológica permite que o ecossistema retome sua trajetória histórica, da mesma forma que um médico auxilia no processo de cura, fazendo com que os pacientes possam retomar suas vidas.

    Durante o hiato causado pela degradação, a Terra não parou. As condições e os limites externos podem ter mudado e os processos internos de recuperação do ecossistema podem desencadear uma expressão do ecossistema diferente da anterior. Sendo assim, o resultado da restauração ecológica é necessariamente uma expressão contemporânea e não um retorno ao passado, embora muitas, senão a maioria das espécies, persistem tanto no passado como no futuro, na maior parte dos locais. Desta forma, a restauração ecológica conecta um ecossistema degradado ao seu futuro. Restauramos a continuidade ecológica histórica, não os ecossistemas históricos. Independentemente de quanto tentarmos restaurar o passado, isso nunca acontecerá. Não temos escolha nessa questão, pois não podemos controlar os resultados da restauração sem perder a qualidade da naturalidade que nos esforçamos por recuperar. Na melhor das hipóteses, podemos somente simular o passado à medida que restauramos. A razão para isto é que os ecossistemas consistem de organismos vivos, e a vida não anda para trás. Em muitos projetos de restauração, o estado futuro simula os aspectos estruturais básicos do ecossistema antes do seu estado degradado, mas acreditar que ele pode realmente retornar a esse estado anterior (como se o tempo fosse reversível) é ilusório e contraproducente. Restauramos invariavelmente os ecossistemas para o futuro. Sendo assim, a restauração ecológica é, de certa forma, uma metáfora que não deve ser interpretada literalmente. No entanto, é uma metáfora poderosa e um caminho a se seguir em tempos difíceis, que tem conquistado a imaginação, corações e mentes das pessoas em todo o mundo.

    Cada projeto de restauração ecológica é um caso específico, sendo muito mais fácil restaurar alguns ecossistemas degradados do que outros em algo que se aproxime de sua condição histórica anterior. No entanto, a intenção em todos os casos deveria ser conduzir o sistema de volta para sua trajetória ecológica que, antes da degradação, estava em processo de desenvolvimento em direção a um futuro por vezes indefinido. As tentativas de restaurar um ecossistema em seu antigo estado histórico são válidas e viáveis, desde que se entenda que o resultado será imperfeito e que em cada projeto nossos objetivos gerais são restaurar a continuidade histórica e a totalidade ecológica, em vez de uma condição estática.

    Vivemos em um momento de crescente instabilidade ambiental. A exploração e o abuso do ambiente natural pelo homem e as contínuas mudanças no clima e em outras condições globais ditam que muitos ecossistemas só podem ser restaurados a estados que contêm substituições das espécies e rearranjos da estrutura com os quais não estamos familiarizados. Restaurar a estados anteriormente desconhecidos pode parecer paradoxal, mas este conceito não é diferente da ampla gama de possibilidades de evolução dos ecossistema ao longo do tempo geológico. O que torna a restauração ecológica distinta é que confiamos o máximo possível nas condições passadas do ecossistema pré-degradação como referência ou ponto de partida e aproveitamos quaisquer possíveis legados do passado a fim de garantir um ecossistema totalmente funcional, dinâmico e sustentável no futuro. Em particular, povoamos o ecossistema restaurado com espécies do ecossistema anterior à degradação na medida em que as condições contemporâneas o permitem. Essas espécies coevoluíram ou são adaptadas de outra forma para funcionar perfeitamente umas com as outras e com o ambiente físico. Elas são mais propensas do que outras espécies a se organizarem em ecossistemas satisfatoriamente restaurados e sustentáveis. Proporcionam continuidade histórica e devolvem um ecossistema à sua trajetória ecológica histórica.

    O ritmo das recentes mudanças ambientais, aliado à magnitude das atuais perdas de biodiversidade, aceleraram a evolução dos ecossistemas, conduzindo, em geral, ao seu empobrecimento através da simplificação e consequente desestabilização. O empobrecimento é o preço que pagamos pelas atitudes inscientes ou pelo desrespeito insensível das gerações passadas e daqueles de nós que indiscriminadamente transformam as paisagens, poluem os ecossistemas e esgotam os recursos. O conceito da restauração, no entanto, dá-nos a esperança de que, através de nossos esforços, podemos recuperar a complexidade do ecossistema e mais uma vez desfrutar dos benefícios pessoais, culturais e econômicos dos ecossistemas funcionais e da grandeza biótica que eles contêm. Sugere ainda que podemos desfazer pelo menos alguns dos danos ecológicos e ambientais causados no passado e que, apesar da contínua explosão demográfica, podemos abrir novos caminhos para o desenvolvimento econômico sustentável. O ecossistema restaurado ilustrado na figura 1.1 comprova que a restauração ecológica é de fato possível e foi alcançada. Tais caminhos devem basear-se no reconhecimento de que nossas economias dependem inteiramente, em primeira e última análise, do capital natural (riqueza produzida pelos ecossistemas totalmente funcionais e sua biodiversidade). A menos que restauremos esse capital e aprendamos a viver do rendimento, em vez de gastarmos de forma imprudente nossas reservas, estaremos condenados ao empobrecimento em muitos níveis e, possivelmente, a catástrofes econômicas e ecológicas sem precedentes. Os caminhos enriquecedores da restauração levam à sustentabilidade e à reintegração das pessoas com a

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