ICB-USP na Amazônia: 30 anos de ciência nas fronteiras do Brasil
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O livro relata pesquisas sobre malária realizadas por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP na Amazônia Ocidental. Com apresentação de Luís Carlos de Souza Ferreira, diretor do ICB-USP entre 2018 e 2021, e prefácio de Erney Plessmann de Camargo, os quatro capítulos de ICB na Amazônia 30 Anos de ciência nas fronteiras do Brasil narram as atividades de pesquisadores do Instituto na região a partir de 1989, quando Erney e Luiz Hildebrando Pereira da Silva chegaram a Rondônia, então o estado que concentrava os casos de malária no Brasil. Do grupo pioneiro, um pesquisador e docente do ICB se fixou em Monte Negro, no centro de Rondônia, onde criou e mantém o ICB-V, um centro avançado de pesquisa, ensino e extensão. Com o passar dos anos, os maiores focos da doença se deslocaram para o Acre, onde o grupo liderado por Marcelo Urbano Ferreira vem estuda a epidemiologia da malária, estratégias para a eliminação dos focos residuais da doença, a genética e genômica dos parasitas. Também no Acre, Cláudio Romero Farias Marinho, do Laboratório de Imunoparasitologia Experimental do ICB, coordena pesquisas translacionais sobre consequências do acomentimento da malária em gestantes, conduzidas em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal do Acre.
Com programação visual de Tânia Maria, e texto de Mônica Teixeira, o livro apresenta amplo material fotográfico sobre a região, sua população, e a presença do ICB-USP. O ICB agradece a cessão desse rico material a Alessandra Fratus, Priscila Sato, Lígia Gonçalves, Rodrigo Medeiros, Denise Guimarães, Valéria Dias, Rubens Belfort Júnior, Juliana Camargo, Marcelo Urbano Ferreira, Mônica da Silva Nunes, Natal dos Santos Silva, Jamille Dombrowski, Erney Camargo, Luís Marcelo Aranha Camargo.
Mônica Teixeira
I have been a science writer and broadcaster for the last 20 years, after a 20-year career as a current affair correspondent in all the major tv networks in Brazil.
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ICB-USP na Amazônia - Mônica Teixeira
EM UM SÓ ESTADO, METADE DE TODA
A MALÁRIA DA AMAZÔNIA
Em 1960, registra a Organização Panamericana de Saúde, 8.267 casos de malária ocorreram no Brasil, um resultado das campanhas de combate à doença realizadas nas décadas de 1950 e 1960. Em três anos, o número de casos havia subido para a casa dos 100 mil, para novamente cair à metade em 1970. A partir de 1974, no entanto, iniciou-se a escalada que levou o total de casos de malária no país para além dos 600 mil em 1991 e 1992, em 1999 e 2000, e em 2005. No intervalo entre 1970 e 1991, a quantidade de casos da parasitose cresceu 75 vezes, enquanto a população brasileira aumentou 70%; e a malária se tornou um problema de saúde pública exclusivo da Amazônia, onde passaram a acontecer 99% dos casos brasileiros, ante 60% três décadas antes. Fora da Região Norte, a doença foi praticamente eliminada pelas campanhas bem-sucedidas da metade do século XX.
A explosão da malária levou o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo à Amazônia no final da década de 1980. Mais precisamente, à Amazônia Ocidental — a Rondônia e ao Acre, mas também à parte mais ocidental do estado do Amazonas. De lá para cá, o ICB nunca mais deixou a região. Diferentes grupos de pesquisa do Instituto testemunharam ao longo dos anos as mudanças do perfil da malária, os movimentos da população, as condições de saúde nesses estados. A presença do ICB se consolidou com a criação do ICB-V, um centro avançado de ensino, pesquisa e extensão na cidade de Monte Negro, no centro do estado de Rondônia; e de um laboratório avançado em Cruzeiro do Sul, no Acre.
A iniciativa que colocou o ICB na trilha da investigação das características da malária no lugar e no momento em que a doença atingiu níveis inéditos na história do Brasil partiu do departamento de Parasitologia que, em 1986, recebeu o médico e pesquisador Erney Plessmann de Camargo, por concurso, como professor titular. A chegada de Erney ao ICB marcou sua volta à USP e ao departamento a que pertencia em 1964, quando o primeiro Ato Institucional editado pela ditadura militar o demitiu sumariamente da posição de auxiliar de ensino da Faculdade de Medicina — o primeiro degrau da carreira docente.
Como resultado da reforma universitária de 1969, a Parasitologia do ICB sucedeu o departamento de Parasitologia da Medicina, ao se fundir com departamentos similares das faculdades de Odontologia, Ciências Farmacêuticas, Medicina Veterinária e Zootecnia. Todos desfrutavam de prestígio na época, em nível nacional e internacional. Em especial, a cátedra de Parasitologia da Medicina, cujas origens remontam a 1913, quando a Faculdade contratou Emile Brumpt, conhecido parasitologista francês e autor do livro de referência mais importante à época, Précis de Parasitologie. Brumpt foi sucedido por Lauro Travassos e, na década de 30, por Samuel Barnsley Pessôa.
Nas apresentações sobre a malária em Rondônia, professor Erney muitas vezes mostrou o gráfico acima, em que se vê com clareza a evolução paralela da população e dos casos de malária no estado. A migração começou nos anos 1970, estimulada pelos projetos de colonização organizados pelo governo federal; e pelas promessas de enriquecimento nos garimpos, na década de 1980. Erney conheceu e frequentou cada uma das localidades sedes das atividades de pesquisa em Rondônia.
No final dos anos 1980, no entanto, o departamento do ICB atravessava um período de declínio; a vinda de Erney teve o objetivo de renová-lo e modernizá-lo. Estabelecer um núcleo de pesquisa em Rondônia, o estado mais afetado pelo recrudescimento da malária, em parceria com Luiz Hildebrando Pereira da Silva, outro dos demitidos da Parasitologia da Faculdade de Medicina em 1964, fez parte das medidas que deram novo impulso ao departamento, ao recolocá-lo na tradição de Pessôa, seu mais influente catedrático — para quem a parasitologia e a visão social do Brasil e da medicina se interligavam irredutivelmente.
OS PRIMEIROS ANOS
Rondônia já concentrava metade de todos os casos de malária do país quando Erney começou a buscar formas de estabelecer um núcleo de pesquisa no estado, para estudar as características epidemiológicas da doença e, a partir de então, propor estratégias de controle. Quem o levou pela primeira vez, em 1986, foi Marcos Boulos, infectologista da Faculdade de Medicina, que até 1989 participou da iniciativa. Nessa fase, estabeleceram contatos com médicos no estado. Luis Hildebrando, interessado em desenvolver uma vacina contra a malária, e diretor do Laboratório de Biologia Experimental do Instituto Pasteur, em Paris, se juntaria a ambos. No começo dos anos 1990, passou a frequentar Porto Velho, a capital. Dois secretários da saúde na administração de Jerônimo Santana — Confúcio Moura, hoje senador e ex-governador de Rondônia, e Olympio Côrrea, falecido em 2020 — apoiaram a proposta.
Juntos, Erney e Luiz Hildebrando buscaram financiamentos da Organização Mundial de Saúde, do governo francês e da Financiadora de Estudos e Projetos, a Finep, para começar a pesquisa sobre a epidemiologia da malária em Rondônia e no Senegal, sobre a resposta imunológica ao parasita, e a biologia e hábitos dos anofelinos, os mosquitos que transmitem os plasmódios de um ser humano para outro. Em 1990, o reitor da USP, José Goldemberg, concordou em abrir duas vagas de auxiliares de ensino no ICB destinadas ao projeto, em regime de tempo integral e dedicação exclusiva. O edital do concurso previa que ambos morariam em Rondônia por dois anos para se encarregarem do trabalho de campo. Marcelo Urbano Ferreira, hoje professor titular do departamento de Parasitologia, e Luis Marcelo Aranha Camargo, que dirige o ICB-V em Monte Negro, foram selecionados. A secretaria estadual da saúde cedeu a eles uma sala, transformada em um pequeno laboratório, no prédio do Hemocentro de Porto Velho. A essa altura, outro professor do ICB havia se juntado ao grupo: Henrique Krieger, geneticista e experiente pesquisador em epidemiologia. Até 2021, Krieger e colaboradores mantinham pesquisas em Rondônia.
Luiz Hildebrando mudou definitivamente para Porto Velho quando completou setenta anos e se aposentou da USP, quatro anos antes dessa fotografia, de 2002. Um dos projetos de pesquisa que liderou em Rondônia aconteceu na Vila Candelária, a 20 km da capital, fundada no tempo da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. "Vila Candelária tem incidência particular