Brás, Bexiga e Barra Funda
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Brás, Bexiga e Barra Funda - Antônio de Alcântara Machado
ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO
BRÁS,
BEXIGA E
BARRA FUNDA
Sumário
Introdução
Artigo de fundo
Gaetaninho
Carmela
Tiro de Guerra nº 35
Amor e sangue
A sociedade
Lisetta
Corinthians (2) vs. Palestra (1)
Notas biográficas do novo deputado
O monstro de rodas
Armazém Progresso de São Paulo
Nacionalidade
Notas
Momento histórico
Momento literário
Créditos
À memória de
LEMMO LEMMI
(VOLTOLINO[ 1 ])
e ao triunfo dos novos mamalucos[ 2 ]
ALFREDO MARIO GUASTINI
VICENTE RAO
ANTÓNIO AUGUSTO COVELLO
PAULO MENOTTI DEL PICCHIA
NICOLAU NASO
FLAMÍNIO FAVERO
VICTOR BRECHERET
ANITA MALFATTI
MARIO GRACIOTTI
C
ONDE
F
RANCISCO
M
ATARAZZO
J
ÚNIOR
F
RANCISCO
P
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S
UD
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ENUCCI
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ERESA DI
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TALO
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San Vincenzo è l’vltima colonia de’ portoghesi: e perche è ln vn paese lontanissimo, vi si sogliono condennare quei, che ln Portogallo hanno meritato la galera, ò cose tali.
Giovanni Botero. Le relatione universali.[ 3 ]
ln Brescia, 1595.
Esta é a pátria dos nossos descendentes.
Conde Francisco Matarazzo.[ 4 ] Discurso de saudação ao dr. Washington Luís.[ 5 ]
São Paulo, 1926.
Artigo de fundo
Assim como quem nasce homem de bem deve ter a fronte altiva, quem nasce jornal deve ter artigo de fundo. A fachada explica o resto.
Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este prefácio, portanto, também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo.
Brás, Bexiga e Barra Funda é o órgão dos ítalo-brasileiros de São Paulo.
Durante muito tempo a nacionalidade viveu da mescla de três raças que os poetas xingaram de tristes: as três raças tristes.
A primeira, as caravelas descobridoras encontraram aqui comendo gente e desdenhosa de mostrar suas vergonhas
.[ 1 ] A segunda veio nas caravelas. Logo os machos sacudidos[ 2 ] desta se enamoraram das moças bem gentis
daquela, que tinham cabelos mui pretos, compridos pelas espádoas[ 3 ]
.
E nasceram os primeiros mamalucos.
A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e servir a gente. Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, mumbandas, macumas.[ 4 ]
E nasceram os segundos mamalucos.
E os mamalucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil. O colosso começou a rolar.
Então os transatlânticos trouxeram da Europa outras raças aventureiras. Entre elas uma alegre que pisou na terra paulista cantando e na terra brotou e se alastrou como aquela planta também imigrante que há duzentos anos veio fundar a riqueza brasileira.
Do consórcio da gente imigrante com o ambiente, do consórcio da gente imigrante com a indígena, nasceram os novos mamalucos.
Nasceram os intalianinhos[ 5 ].
O Gaetaninho.
A Carmela.
Brasileiros e paulistas. Até bandeirantes.
E o colosso continuou rolando.
No começo a arrogância indígena perguntou meio zangada:
Carcamano[ 6 ] pé de chumbo
Calcanhar de frigideira
Quem te deu a confiança
De casar com brasileira?
O pé de chumbo poderia responder tirando o cachimbo da boca e cuspindo de lado: "A brasileira, per Bacco!"
Mas não disse nada. Adaptou-se. Trabalhou. Integrou-se. Prosperou.
E o negro violeiro cantou assim:
Italiano grita
Brasileiro fala
Viva o Brasil
E a bandeira da Itália!
Brás, Bexiga e Barra Funda, como membro da livre imprensa que é, tenta fixar tão somente alguns aspectos da vida trabalhadeira, íntima e cotidiana desses novos mestiços nacionais e nacionalistas. É um jornal. Mais nada. Notícia. Só. Não tem partido nem ideal. Não comenta. Não discute. Não aprofunda.
Principalmente não aprofunda. Em suas colunas não se encontra uma única linha de doutrina. Tudo são fatos diversos. Acontecimentos de crônica urbana. Episódios de rua. O aspecto étnico-social dessa novíssima raça de gigantes encontrará amanhã o seu historiador.