
COMEÇO DE 2004. APÓS AS PROVAS en primeur de Bordeaux, Robert Parker deu 96 pontos para o Château Pavie, de Saint-Émilion, um de seus vinhos favoritos na denominação. “É um vinho de sublime riqueza, mineralidade, delineamento e nobreza”, escreveu na época o crítico norte-americano, ainda no auge de sua fama. Jancis Robinson, por sua vez, deu apenas 12 pontos (numa escala de 20, o que na medida de Parker seria algo como 60 pontos, ou seja, uma bebida abaixo do padrão). “Aromas maduros completamente pouco apetitosos. Por quê? Porto doce. Vinho do Porto é melhor do Douro e não de Saint-Émilion. Vinho ridículo que lembra mais um Zinfandel de colheita tardia do que um Bordeaux tinto”, escreveu a analista inglesa.
Esses comentários criaram um longo debate no mundo do vinho e, segundo alguns, foi um marco na mudança de pensamento no mundo do vinho. “Isso marcou um antes e um depois, uma divisão no mundo. A influência de Parker tornou-se menos importante e já se começou a falar sobre frescor. Conheço bem o exemplo de Pavie. Quando venderam para Gerard Perse, ele contratou imediatamente Michel Rolland [como consultor] e destruíram tudo. Antes de ser vendido, Pavie era uma espécie de López de Heredia da França, uma vinícola que produzia vinhos muito delicados, muito finos. E Rolland chegou e fez vinhos de 15 graus de álcool, superextraídos, muita madeira etc. Portanto, esse conflito de pontos de vista, de visões sobre como o vinho deveria ser, foi colocado em evidência na época”, aponta Patricio Tapia, jornalista responsável pelo Guia Descorchados, e certamente um dos maiores incentivadores dessa mudança de visão na América do Sul.
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